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5º CONGRESSO de Ciências do Trabalho, Meio Ambiente, Direito e Saúde

Transcrevemos aqui o texto publicado na Revista do 5º Congresso de Ciências do Trabalho, Meio Ambiente, Direito e Saúde, sobre o documentário DEDO NA FERIDA que foi exibido durante o evento, seguido de debate com o cineasta e convidados.

O GLOBARITARISMO POR SILVIO TENDLER

Gabriela Nehring

Qual o impacto do sistema financeiro em nossas vidas? O cineasta Silvio Tendler vai ao cerne desta questão com o filme Dedo na Ferida, exibido durante o 5° Congresso Internacional de Ciências do Trabalho,
Meio Ambiente, Direito e Saúde. A exibição do filme, na noite do dia 29, fechou um dia de fortes debates sobre a questão do trabalho e do cotidiano no mundo neoliberal, barbaramente precarizados no mundo inteiro.
Depois da exibição do filme, o cineasta Silvio abriu um debate com a participação da platéia e seus convidados Clóvis Nascimento Filho, presidente da Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros (Fisenge), o economista Paulo Nogueira Batista, ex-vice-presidente do Banco de Desenvolvimento do BRICS e ex-diretor executivo do Fundo Monetário Internacional(FMI) pelo Brasil e mais 10 países, Olímpio Alves dos Santos, presidente do Sindicato dos Engenheiros do Rio de Janeiro e Maximiliano Garcez, que coordenou a mesa. “Dedo na Ferida conta a história de como os governos nacionais são aprisionados pelo capital financeiro internacional”, resumiu o presidente da Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros – Fisenge, Clovis Nascimento Filho. O Sindicato participou da produção do filme como financiador. “(O geógrafo) Milton Santos dizia muito bem que essa globalização era para aprisionar o povo do mundo todo”, completa. O geógrafo brasileiro foi citado em outros momentos do debate. Não por menos, já foi tema de outro documentário de Silvio – Encontro com Milton Santos: O mundo global visto do lado de cá. “Milton Santos falava em globalitarismo, uma globalização que não beneficia os cidadãos, mas a circulação de mercadorias”, explica Silvio.
O cineasta junta, neste filme, o que pensam as mais diversas personalidades sobre o “globalitarismo” de Milton Santos. Há a participação de intelectuais influentes como o antropólogo David Harvey, professor da Universidade de Nova Iorque, o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, professor da Universidade de Coimbra, ou a urbanista Raquel Rolnik, da USP; que interagem pelas mãos do diretor com o podólogo Anderson Marinho Ribeiro, morador de Japeri, cidade do Grande Rio que tem o pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Estado, com o diretor de teatro Bruno W. Medsta e com o economista e empresário Keith Cattley.
Silvio dá sentido aos impactos nefastos do neoliberalismo sobre a vida que é descrita por Anderson com a fala dos economistas brasileiros Ladislau Dawbor, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (Puc-SP); Laura Cardoso, da USP, Guilherme Mello, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp); mostra que é uma questão mundial ao abrir espaço para a participação de líderes como o economista Yanis Varoufakis, político grego, membro do partido Syriza e ex-ministro das finanças do governo Tsipras em 2015, do sanitarista italiano Gianni Tognoni, secretário geral do Tribunal Permanente dos Povos, do cineasta grego naturalizado francês Costa Gravas, autor de Z, Clair de femme e Missing, entre outros, além de militante histórico pelos direitos humanos; e do sindicalista boliviano Oscar Oliveira, líder do movimento contra a privatização da água.

Do Brasil, participam ainda, João Pedro Stédile, líder e fundador do Movimento Sem Terra e Guilherme Boulos, do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). Além do diplomata Celso Amorim, por duas vezes ministro das Relações Exteriores e ex-ministro da Defesa; e de Paulo Nogueira Batista, economista que foi vice-presidente do novo Banco de Desenvolvimento estabelecido pelos BRICS e depois, diretor executivo do Fundo Monetário Internacional (FMI) pelo Brasil e mais 10 países. Ele havia participado, no dia anterior, da mesa sobre a resistência dos países da América Latina e ficou também neste dia, para as discussões com Silvio depois do filme.
“Eu queria confessar uma coisa, fui o pior aluno de matemática e tomei pau em economia duas vezes. Conseguimos esse elenco maravilhoso. São todos muito claros na forma de colocar o problema. Agregar informações para completar este pensamento. Achei que faltava um personagem que perpassasse com sua história de vida. O filme ganhou cor e humanidade. Cada pessoa que você entrevista fala o que ela quer, um filme como este não tem roteiro previamente estabelecido, tem teses e ideias, mas se faz na edição”, definiu o diretor Silvio Tendler.
Em busca do público Silvio diz que o globalitarismo limita a circulação do seu filme nas salas de cinema do país. Para furar o bloqueio, o documentário está disponível gratuitamente e na íntegra na rede mundial de computadores, via Youtube ( assista ). “O filme circulou pelo Brasil sem o apoio da grande mídia, mas conseguimos chamar bastante atenção”, conta o cineasta. Dedo na Ferida foi um dos escolhidos para participar da seleção para o Oscar. “A nossa intenção é viralizar este filme, que passe em todos os lugares”, sentencia Silvio Tendler.
E assim o cineasta tem feito. Seus cabelos brancos e a dificuldade de locomoção, que exige o uso de cadeiras de rodas, não impedem que viaje pelo Brasil, promovendo e discutindo o filme. Mais uma vez, o global olhado de cá, mas também de lá, com especialistas de diferentes partes do mundo, fazendo uma crítica reflexiva e contundente, entrelaçada por uma narrativa que une a vida cotidiana de cada um de nós, ao se utilizar de personagens comuns, aos olhares especializados de pensadores respeitados e exemplos didáticos.
“Sergio Almeida fez o roteiro do filme e já faleceu. Nós fizemos este filme para trazer à tona os mecanismos que produzem a desigualdade e estão aprisionando Estados e democracia”, avaliou Olímpio Alves dos Santos, presidente do Sindicato dos Engenheiros do Rio de Janeiro – Senge/RJ, que financiou a obra juntamente com a Fisenge. “Este trabalho que vocês apoiaram e o Silvio realizou é uma peça de resistência. Essa resistência hoje é mais importante do que nunca. Este poder financeiro está se mostrando disfuncional”, completa o economista Paulo Nogueira. “Você tem uma erosão enorme da base social do capitalismo, não só no Brasil, mas também na Europa e nos Estados Unidos, que se traduz na crise da democracia, que se tornou uma
plutocracia dominada pelos mercados financeiros”, conclui Paulo.